“O primeiro que notei foi o cheiro: couro, madeira e cera com um ligeiro aroma de limão. É muito agradável, e a luz é tênue, sutil. Na realidade não vejo de onde sai, de algum lugar junto ao teto e emite um resplendor ambiental. As paredes e o teto eram de cor vinho escuro, o que dava à espaçosa sala um efeito uterino e o chão era de madeira envernizada muito velha. Na parede, de frente para a porta, havia um grande X de madeira, de mogno muito brilhante, com argolas nos extremos para ficar seguro. Por cima havia uma grande grade de ferro suspensa no teto, com no mínimo de dois metros quadrados, da qual se penduravam todo o tipo de cordas e algemas brilhantes. Perto da porta, dois grandes postes reluzentes e ornados, como balaústres de um parapeito, porém maior, estavam pendurados ao longo da parede como cortinas. Deles pendiam uma impressionante coleção de varas, chicotes e curiosos instrumentos com plumas. Junto à porta havia um móvel de mogno maciço com gavetas muitas estreitas, como se estivessem destinados a guardar amostras de um velho museu. No canto do fundo vejo um banco acolchoado de couro de cor vermelha, e junto à parede, uma estante de madeira onde parecia guardar tacos de bilhar, mas um observador atento descobriria que continha varas de diversos tamanhos e grossura. No canto oposto havia uma sólida mesa de quase dois metros de largura, de madeira brilhante com pernas talhadas e debaixo, dois tamboretes combinando. Mas o que dominava o quarto era uma cama. Era maior que as camas de casal, com dossel de quatro postes talhados no estilo rococó. Parecia de finais do século XIX. Debaixo do dossel via mais correntes e algemas reluzentes. Não havia roupa de cama… apenas um colchão coberto com um lençol vermelho e várias almofadas se seda vermelha em um extremo. A uns metros dos pés da cama havia um grande sofá Chesterfield, colocado no meio da sala, de frente para a cama. Levantei os olhos e observei o teto. Estava cheio de mosquetões, a intervalos irregulares.”
(Ana se volta pra Christian e percebe
ele a olhar fixamente com uma expressão impenetrável. Ela avança pelo quarto e ele
a segue. Ana toca um açoite de camurça pendurado.)
— Chama-se açoite. — (Christian diz em
voz baixa e doce.)
(Ana fica
em choque e se aproxima da cama, passando a mão
por um dos postes. Era muito grosso e o talhe era impressionante.)
— Diga algum coisa — (pede Christian
com um tom enganosamente doce.)
— Você faz isso com as pessoas ou elas
fazem com você?
— Pessoas? — (Ele pisca um par de
vezes, como se estivesse pensando o que responder.) — Faço isso com mulheres
que querem que eu faça.
(Ana o encara sem entender.)
— Se você tem voluntárias dispostas, por que estou
aqui?
— Por que quero muito, muito fazer isso com você.
— Ah.
(Ela fica boquiaberta com a
revelação. Andando para o outro canto do quarto, ela passa a mão pelo banco
acolchoado, até a cintura e desliza os dedos pelo couro. Ana se vira para
olhá-lo.)
— Você é um sádico?
— Sou um dominador.
— O que isso quer dizer? — (ela pergunta com
um sussurro.)
—
Quer dizer que quero
que você se entregue espontaneamente a mim, em tudo.
(Ana o encara com a testa franzida,
tentando assimilar a ideia.)
— Por que eu faria isso?
— Para me satisfazer. — (Christian murmura inclinando a
cabeça, esboçando um sorriso.) — Em termos muito simples, quero que você queira me
agradar.
— Como?
— Eu tenho regras, e quero que você as obedeça.
Elas são para o seu bem e para o meu prazer. Se seguir essas regras como
desejo, eu a recompenso. Se não seguir, eu a castigo e você aprende. —
(ele sussurra enquanto fala para Ana, que esta olhando
para a estante de varas.)
—
Isso tudo faz parte
do pacote de incentivo. Recompensa e castigo.
— Então você se excita exercendo sua vontade sobre
mim.
— Tudo gira em torno de conquistar sua
confiança e seu respeito, para você deixar que eu exerça minha vontade sobre
você. Quanto mais se submeter, maior minha alegria. É uma equação muito
simples.
— Tudo bem, e o que eu ganho com isso?
(Christian encolhe os ombros como um
gesto de desculpa.)
— Eu.
(Ana olha para ele sem saber o eu dizer e volta a
mexer nas varas. Christian passa a mão pelo cabelo.)
— Não tem nada a perder, Anastasia —
(ele murmura exasperado.) — Vamos voltar lá para baixo, onde consigo me
concentrar melhor. Ver você neste quarto me perturba muito. —
(Christian murmura nervoso.)
(Christian estende a mão para ela,
mas Ana o encara indecisa, ainda assustada pelo que viu.)
— Não vou machucar você, Anastasia.
(Ana olha par ele e respira fundo, segurando
sua mão e o acompanhando para fora do quarto.)
— Se você vai querer fazer isso, preciso lhe mostrar
uma coisa.
(Christian anda pelo corredor e para
em frente a uma porta um pouco mais distante do quarto vermelho. Ele abre a
porta, revelando outro quarto.)
“Tudo era branco… tudo: os móveis, as paredes, a roupa de cama. Era limpa e fria, mas como uma vista preciosa de Seattle desde a janela de cristal.”
— Este será seu quarto. Você pode decorá-lo como
quiser, ter o que quiser aqui dentro.
—
Meu quarto? Espera
que eu me mude para cá? — (Ana pergunto sem esconder o tom de
descrença.)
— Não o tempo todo
— (ele a tranqüiliza.) — Só, vamos dizer, de sexta à noite a domingo. Temos
que conversar sobre isso tudo, combinar. Se você quiser fazer isso.
— (Christian acrescenta em voz baixa e duvidosa.)
— Eu vou dormir aqui?
— Sim.
— Não com você.
— Não. Eu já expliquei. Não durmo com ninguém,
a não ser com você quando está completamente bêbada. —
(ele diz em tom de reprimenda.)
(Ana cora e aperta os lábios.)
— Onde você dorme?
— Meu quarto é lá embaixo. Venha, você deve estar com
fome.
— Por mais estranho que pareça, perdi o apetite. — (Ana murmura
sem vontade.)
— Você precisa comer, Anastasia. — (ele chama
sua atenção.)
(Christian pega a mão dela e ambos
voltam para o andar de baixo.)
— Estou perfeitamente ciente de estar levando você
para o mau caminho,
Anastasia, por isso
quero que pense com cuidado. — (Christian diz soltando a mão dela e
dirigindo-se com passo tranquilo para a cozinha.)
— Você deve ter
algumas perguntas. Você assinou a declaração de confidencialidade, agora pode
me perguntar o que quiser que eu respondo.
(Ana está junto à bancada da cozinha
e observa Christian abrir a geladeira e tirar um prato de queijo com dois
enormes cachos de uva brancas e vermelhas. Ele deixa o prato sobre a mesa e
começa a cortar o pão.)
— Sente-se. — (ele diz apontando um
banco junto à bancada. Ana obedece.)
— Você falou em papelada.
— Sim.
— Que tipo de papelada?
— Bem, além da declaração de
confidencialidade, um contrato dizendo o que faremos e o que não faremos. Preciso
conhecer seus limites, e você precisa conhecer os meus. Isso é consensual,
Anastásia.
— E se eu não quiser fazer isso?
— Tudo bem — (Christian diz cauteloso.)
— Mas aí não teremos nenhum tipo de relação?
— Não.
— Por quê?
— Porque é o único tipo de relação na
qual estou interessado.
— Por quê?
— É assim que eu sou. — (Christian dá
de ombros.)
— Como você ficou desse jeito?
— Por que uma pessoa é do jeito que
é? Essa é uma resposta um pouco difícil. Por que uns gostam de queijo e outros
odeiam? Você gosta de queijo? A Sra. Jones, minha governanta, deixou isso para
o jantar.
(Christian tira dois grandes pratos
brancos de um armário e os coloca diante de Ana.)
— Quais regras tenho que seguir?
— Tenho todas por escrito. Vou
examiná-las depois que você tiver comido.
— Eu realmente não estou com fome. — (Na
sussurra.)
— Você vai comer — (Christian insiste.) — Quer outra taça de vinho?
— Sim, por favor.
(Ele serve outra taça e se senta ao
lado dela. Ana dá um rápido gole em sua bebida.)
— Pode se servir de comida,
Anastásia.
(Ela
pega um pequeno cacho de uvas. Christian aperta os olhos.)
— Faz tempo que você é assim? —
Perguntou.
— Sim.
— É fácil encontrar mulheres que queiram
fazer isso?
(Christian ergue as sobrancelhas para
Ana.)
— Ficaria surpresa. — (responde secamente.)
— Então, por que eu? Eu realmente não
entendo.
— Anastásia, eu já lhe disse. Há
alguma coisa em você. Não consigo deixá-la. — (Ele sorriu ironicamente.) — Sou como
a mariposa atraída pela chama. — (A voz de Christian fica sombria.) —Quero você
desesperadamente, sobretudo agora, que está mordendo o lábio de novo. — (Christian
respira fundo e engole em seco.)
(Ana para de morder o lábio e o
encara, desejosa e assustada.)
— Acho que você inverteu as coisas — (Ana
resmunga.)
— Coma!
—
Não. Ainda não assinei nada, então acho que vou me agarrar à minha liberdade um
pouquinho, se você não se opuser.
(O olhar de Christian fica mais suave
e seus lábios esboçam um sorriso.)
— Como quiser, Srta. Steele.
—
Quantas mulheres? — (Ana pergunta de repente, com muita curiosidade.)
— Quinze.
— Por longos períodos de tempo?
— Algumas delas, sim.
— Já machucou alguém?
— Sim.
— Muito?
— Não.
— Vai me machucar?
— Como assim?
— Fisicamente, você vai me machucar?
— Vou castigá-la quando for
necessário e vai ser doloroso.
(Ana
tomei outro gole de vinho para tentar esconder seu nervosismo.)
— Já apanhou? — Pergunto.
— Sim.
“Muitas, muitas vezes. Elena era diabolicamente habilidosa com um chicote. Era o único contato que eu poderia tolerar.”
— Vamos discutir isso no meu
escritório. Quero lhe mostrar uma coisa.
(Ana o segue até o escritório, um
amplo cômodo com uma cortina desde o chão até o teto. Christian senta-se na
mesa e aponta com um gesto para que Ana se sente em uma cadeira de couro de
frente a ele e lhe estende uma folha de papel.)
—
Estas são as regras. Todas elas estão sujeitas a modificações. Elas fazem parte
deste contrato, do qual você também pode ter uma cópia. Leia-as agora e vamos
discuti-las.
REGRAS
Obediência:
A Submissa
obedecerá imediatamente todas as instruções do Amo, sem duvidar, sem reservas e
de forma expressiva. A Submissa aceitará toda atividade sexual que o Amo
considerar oportuna e prazerosa, exceto as atividades contempladas nos limites
inquebráveis (Apêndice 2). O fará com entusiasmo e sem duvidar.
Sono:
A Submissa
garantirá que dormirá no mínimo sete horas diária quando não estiver com o Amo.
Refeição:
Para
cuidar de sua saúde e bem estar, a Submissa comerá frequentemente alimentos
incluídos em uma lista (Apêndice 4). A Submissa não comerá entre horas, a
exceção de fruta.
Roupa:
Durante a vigência do contrato, a Submissa apenas usará roupa que o Amo
houver aprovado. O Amo oferecerá a Submissa uma quantia para roupas. O Amo
acompanhará a Submissa para comprar roupas quando seja necessário. Se o Amo
assim o exige, enquanto o contrato estiver vigente, a Submissa vestirá os
adornos que exija o Amo, em sua presença ou em qualquer outro momento que o Amo
considere oportuno.
Exercício:
O Amo proporcionará a Submissa um treinador pessoal quatro vezes por
semana, em sessões de uma hora, horas convenientes para o treinador e a
Submissa. O treinador pessoal informará ao Amo os avanços da Submissa.
Higiene
pessoal e beleza:
A Submissa
estará limpa e depilada a todo momento. A Submissa irá ao salão de beleza
escolhido pelo Amo quando este decida e se submeterá a qualquer tratamento que
o Amo considere oportuno.
Segurança
pessoal:
A Submissa
não beberá em excesso, não fumará, não tomará nenhuma substância psicotrópica,
nem correrá riscos sem necessidade.
Qualidades
pessoais:
A Submissa apenas manterá relações sexuais com o Amo. A Submissa se
comportará a todo o momento com respeito e humildade. Deve compreender que sua
conduta influencia diretamente na do Amo. Será responsável por qualquer ato,
maldade ou má conduta que leve a cabo quando o Amo não estiver presente.
O
não cumprimento de quaisquer das regras acima resultará em punição imediata,
cuja natureza será determinada pelo Dominador.
— Limites rígidos? — (Ana pergunta
alarmada.)
—
Sim. O que você não fará e o que eu não farei. Precisamos especificar em nosso contrato.
—
Não estou certa quanto a aceitar dinheiro para as roupas. Parece errado. (Ana
se remexe n cadeira.)
— Quero gastar dinheiro com você.
Deixa-me presenteá-la com algumas roupas. Posso precisar que me acompanhe em eventos,
e quero você bem vestida. Tenho certeza que o seu salário, quando você
conseguir de fato um emprego, não cobrirá o tipo de roupa que eu gostaria que você
usasse.
— Não preciso usar essas roupas quando
não estiver com você?
— Não.
— Ok — (Ana diz pensativa.) — Não quero malhar quatro vezes por
semana.
—
Anastásia, preciso de você ágil, forte e resistente. Confie em mim, você
precisa malhar.
— Mas com certeza não quatro vezes
por semana. Que tal três?
— Quero que sejam quatro.
— Achei que isso fosse uma
negociação.
(Christian contrai os lábios.)
— Ok, Srta. Steele, outro ponto para
você. Eu tal uma hora três dias por semana e meia hora um dia?
—
Três dias, três horas. Tenho a impressão que você vai garantir que eu me
exercite quanto eu estiver aqui.
—
É verdade. Ok. Fechado. Tem certeza que não quer estagiar em minha empresa? Você
negocia bem.
— Não acho que seja uma boa ideia.
(Ana relê as últimas regras.)
—
Agora, os limites. Estes são os meus. — (Christian diz estendendo outra folha
de papel.)
LÍMITES RÍGIDOS:
Atos com
fogo.
Atos com
urina, fezes e excrementos.
Atos com
agulhas, facas, perfurações e sangue.
Atos com
instrumentos médicos ginecológicos.
Atos com
crianças e animais.
Atos que
deixem marcas permanentes na pele.
Atos
relativos ao controle da respiração.
Atividade
que implique contato direto com corrente elétrica, fogo e chamas no corpo.
(Ana
continua a ler, espantada com o conteúdo.)
— Tem mais alguma coisa que você
gostaria de acrescentar? — (Christian pergunta de modo gentil.)
(Ainda
perplexa, Ana não consegue responder. Christian a olha e
enruga a testa.)
— Tem alguma coisa que você se negue
a fazer?
— Não sei.
— Como assim, não sabe?
(Ela se retorce desconfortável e
morde o lábio inferior.)
— Eu nunca fiz nada parecido com isso.
— Bem, mas quando fez sexo, houve
alguma coisa que não gostou de fazer?
(Ana enrubesce, envergonhada.)
—
Pode me dizer, Anastásia. Precisamos ser sinceros um com o outro, ou isso não
vi dar certo.
(Ana torna a se retorcer e olha para seus
dedos contraídos.)
— Conte para mim — (Christian
ordena.)
—
Bom... Eu nunca fiz sexo antes, então
não sei. — (ela diz com uma voz baixa.)
— Nunca? — (ele suspira.)
(Ana faz que não.)
— Você é virgem?
(Ela
balança a cabeça, voltando a corar. Christian fecha os olhos, muito nervoso,
quando os abre, a encara irritado.)
— Por que não me contou, porra? — (ele rosna furioso.)
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