sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Cinquenta Tons de Cinza - capítulo 7 (primeira temporada)


“O primeiro que notei foi o cheiro: couro, madeira e cera com um ligeiro aroma de limão. É muito agradável, e a luz é tênue, sutil. Na realidade não vejo de onde sai, de algum lugar junto ao teto e emite um resplendor ambiental. As paredes e o teto eram de cor vinho escuro, o que dava à espaçosa sala um efeito uterino e o chão era de madeira envernizada muito velha. Na parede, de frente para a porta, havia um grande X de madeira, de mogno muito brilhante, com argolas nos extremos para ficar seguro. Por cima havia uma grande grade de ferro suspensa no teto, com no mínimo de dois metros quadrados, da qual se penduravam todo o tipo de cordas e algemas brilhantes. Perto da porta, dois grandes postes reluzentes e ornados, como balaústres de um parapeito, porém maior, estavam pendurados ao longo da parede como cortinas. Deles pendiam uma impressionante coleção de varas, chicotes e curiosos instrumentos com plumas. Junto à porta havia um móvel de mogno maciço com gavetas muitas estreitas, como se estivessem destinados a guardar amostras de um velho museu. No canto do fundo vejo um banco acolchoado de couro de cor vermelha, e junto à parede, uma estante de madeira onde parecia guardar tacos de bilhar, mas um observador atento descobriria que continha varas de diversos tamanhos e grossura. No canto oposto havia uma sólida mesa de quase dois metros de largura, de madeira brilhante com pernas talhadas e debaixo, dois tamboretes combinando. Mas o que dominava o quarto era uma cama. Era maior que as camas de casal, com dossel de quatro postes talhados no estilo rococó. Parecia de finais do século XIX. Debaixo do dossel via mais correntes e algemas reluzentes. Não havia roupa de cama… apenas um colchão coberto com um lençol vermelho e várias almofadas se seda vermelha em um extremo. A uns metros dos pés da cama havia um grande sofá Chesterfield, colocado no meio da sala, de frente para a cama. Levantei os olhos e observei o teto. Estava cheio de mosquetões, a intervalos irregulares.”

(Ana se volta pra Christian e percebe ele a olhar fixamente com uma expressão impenetrável. Ela avança pelo quarto e ele a segue. Ana toca um açoite de camurça pendurado.)
— Chama-se açoite. — (Christian diz em voz baixa e doce.)

(Ana fica em choque e se aproxima da cama, passando a mão por um dos postes. Era muito grosso e o talhe era impressionante.)

— Diga algum coisa — (pede Christian com um tom enganosamente doce.)

— Você faz isso com as pessoas ou elas fazem com você?
— Pessoas? — (Ele pisca um par de vezes, como se estivesse pensando o que responder.) — Faço isso com mulheres que querem que eu faça.
(Ana o encara sem entender.)

Se você tem voluntárias dispostas, por que estou aqui?

Por que quero muito, muito fazer isso com você.

— Ah.

(Ela fica boquiaberta com a revelação. Andando para o outro canto do quarto, ela passa a mão pelo banco acolchoado, até a cintura e desliza os dedos pelo couro. Ana se vira para olhá-lo.)

— Você é um sádico?

— Sou um dominador.
O que isso quer dizer? — (ela pergunta com um sussurro.)

Quer dizer que quero que você se entregue espontaneamente a mim, em tudo.
(Ana o encara com a testa franzida, tentando assimilar a ideia.)

Por que eu faria isso?

Para me satisfazer. — (Christian murmura inclinando a cabeça, esboçando um sorriso.) — Em termos muito simples, quero que você queira me agradar.
Como?

Eu tenho regras, e quero que você as obedeça. Elas são para o seu bem e para o meu prazer. Se seguir essas regras como desejo, eu a recompenso. Se não seguir, eu a castigo e você aprende. — (ele sussurra enquanto fala para Ana, que esta olhando para a estante de varas.)
E como tudo isso se encaixa? — (ela pergunta apontando com a mão ao redor do quarto.)





Isso tudo faz parte do pacote de incentivo. Recompensa e castigo.

Então você se excita exercendo sua vontade sobre mim.

Tudo gira em torno de conquistar sua confiança e seu respeito, para você deixar que eu exerça minha vontade sobre você. Quanto mais se submeter, maior minha alegria. É uma equação muito simples.
Tudo bem, e o que eu ganho com isso?
(Christian encolhe os ombros como um gesto de desculpa.)

— Eu.

(Ana olha para ele sem saber o eu dizer e volta a mexer nas varas. Christian passa a mão pelo cabelo.)

— Não tem nada a perder, Anastasia — (ele murmura exasperado.) — Vamos voltar lá para baixo, onde consigo me concentrar melhor. Ver você neste quarto me perturba muito. — (Christian murmura nervoso.)

(Christian estende a mão para ela, mas Ana o encara indecisa, ainda assustada pelo que viu.)


Não vou machucar você, Anastasia.

(Ana olha par ele e respira fundo, segurando sua mão e o acompanhando para fora do quarto.)

Se você vai querer fazer isso, preciso lhe mostrar uma coisa.

(Christian anda pelo corredor e para em frente a uma porta um pouco mais distante do quarto vermelho. Ele abre a porta, revelando outro quarto.)

“Tudo era branco… tudo: os móveis, as paredes, a roupa de cama. Era limpa e fria, mas como uma vista preciosa de Seattle desde a janela de cristal.”



Este será seu quarto. Você pode decorá-lo como quiser, ter o que quiser aqui dentro.

Meu quarto? Espera que eu me mude para cá? — (Ana pergunto sem esconder o tom de descrença.)
Não o tempo todo — (ele a tranqüiliza.) — Só, vamos dizer, de sexta à noite a domingo. Temos que conversar sobre isso tudo, combinar. Se você quiser fazer isso. — (Christian acrescenta em voz baixa e duvidosa.)
Eu vou dormir aqui?

— Sim.

— Não com você.

Não. Eu já expliquei. Não durmo com ninguém, a não ser com você quando está completamente bêbada. — (ele diz em tom de reprimenda.)
(Ana cora e aperta os lábios.)

— Onde você dorme?

Meu quarto é lá embaixo. Venha, você deve estar com fome.

Por mais estranho que pareça, perdi o apetite. — (Ana murmura sem vontade.)

Você precisa comer, Anastasia. — (ele chama sua atenção.)

(Christian pega a mão dela e ambos voltam para o andar de baixo.)
Estou perfeitamente ciente de estar levando você para o mau caminho, Anastasia, por isso quero que pense com cuidado. — (Christian diz soltando a mão dela e dirigindo-se com passo tranquilo para a cozinha.)

Você deve ter algumas perguntas. Você assinou a declaração de confidencialidade, agora pode me perguntar o que quiser que eu respondo.
(Ana está junto à bancada da cozinha e observa Christian abrir a geladeira e tirar um prato de queijo com dois enormes cachos de uva brancas e vermelhas. Ele deixa o prato sobre a mesa e começa a cortar o pão.)
— Sente-se. — (ele diz apontando um banco junto à bancada. Ana obedece.)
— Você falou em papelada.

— Sim.

— Que tipo de papelada?

— Bem, além da declaração de confidencialidade, um contrato dizendo o que faremos e o que não faremos. Preciso conhecer seus limites, e você precisa conhecer os meus. Isso é consensual, Anastásia.
— E se eu não quiser fazer isso?

— Tudo bem — (Christian diz cauteloso.)

— Mas aí não teremos nenhum tipo de relação?

— Não.

— Por quê?

— Porque é o único tipo de relação na qual estou interessado.

— Por quê?
— É assim que eu sou. — (Christian dá de ombros.)

— Como você ficou desse jeito?

— Por que uma pessoa é do jeito que é? Essa é uma resposta um pouco difícil. Por que uns gostam de queijo e outros odeiam? Você gosta de queijo? A Sra. Jones, minha governanta, deixou isso para o jantar.
(Christian tira dois grandes pratos brancos de um armário e os coloca diante de Ana.)
— Quais regras tenho que seguir?

— Tenho todas por escrito. Vou examiná-las depois que você tiver comido.
— Eu realmente não estou com fome. — (Na sussurra.)

— Você vai comer — (Christian insiste.) — Quer outra taça de vinho?

— Sim, por favor.

(Ele serve outra taça e se senta ao lado dela. Ana dá um rápido gole em sua bebida.)

— Pode se servir de comida, Anastásia.

(Ela pega um pequeno cacho de uvas. Christian aperta os olhos.)
— Faz tempo que você é assim? — Perguntou.

— Sim.

— É fácil encontrar mulheres que queiram fazer isso?
(Christian ergue as sobrancelhas para Ana.)
— Ficaria surpresa. — (responde secamente.)

— Então, por que eu? Eu realmente não entendo.

— Anastásia, eu já lhe disse. Há alguma coisa em você. Não consigo deixá-la. — (Ele sorriu ironicamente.) — Sou como a mariposa atraída pela chama. — (A voz de Christian fica sombria.) —Quero você desesperadamente, sobretudo agora, que está mordendo o lábio de novo. — (Christian respira fundo e engole em seco.)
(Ana para de morder o lábio e o encara, desejosa e assustada.)
— Acho que você inverteu as coisas — (Ana resmunga.)
— Coma!
— Não. Ainda não assinei nada, então acho que vou me agarrar à minha liberdade um pouquinho, se você não se opuser.
(O olhar de Christian fica mais suave e seus lábios esboçam um sorriso.)

— Como quiser, Srta. Steele.

— Quantas mulheres? — (Ana pergunta de repente, com muita curiosidade.)
— Quinze.
— Por longos períodos de tempo?

— Algumas delas, sim.

— Já machucou alguém?

— Sim.
— Muito?

— Não.

— Vai me machucar?

— Como assim?

— Fisicamente, você vai me machucar?

— Vou castigá-la quando for necessário e vai ser doloroso.

(Ana tomei outro gole de vinho para tentar esconder seu nervosismo.)
— Já apanhou? — Pergunto.

— Sim.

“Muitas, muitas vezes. Elena era diabolicamente habilidosa com um chicote. Era o único contato que eu poderia tolerar.”

— Vamos discutir isso no meu escritório. Quero lhe mostrar uma coisa.

(Ana o segue até o escritório, um amplo cômodo com uma cortina desde o chão até o teto. Christian senta-se na mesa e aponta com um gesto para que Ana se sente em uma cadeira de couro de frente a ele e lhe estende uma folha de papel.)




— Estas são as regras. Todas elas estão sujeitas a modificações. Elas fazem parte deste contrato, do qual você também pode ter uma cópia. Leia-as agora e vamos discuti-las.


REGRAS


Obediência:

A Submissa obedecerá imediatamente todas as instruções do Amo, sem duvidar, sem reservas e de forma expressiva. A Submissa aceitará toda atividade sexual que o Amo considerar oportuna e prazerosa, exceto as atividades contempladas nos limites inquebráveis (Apêndice 2). O fará com entusiasmo e sem duvidar.
Sono:

A Submissa garantirá que dormirá no mínimo sete horas diária quando não estiver com o Amo.
Refeição:

Para cuidar de sua saúde e bem estar, a Submissa comerá frequentemente alimentos incluídos em uma lista (Apêndice 4). A Submissa não comerá entre horas, a exceção de fruta.

Roupa:

Durante a vigência do contrato, a Submissa apenas usará roupa que o Amo houver aprovado. O Amo oferecerá a Submissa uma quantia para roupas. O Amo acompanhará a Submissa para comprar roupas quando seja necessário. Se o Amo assim o exige, enquanto o contrato estiver vigente, a Submissa vestirá os adornos que exija o Amo, em sua presença ou em qualquer outro momento que o Amo considere oportuno.
Exercício:

O Amo proporcionará a Submissa um treinador pessoal quatro vezes por semana, em sessões de uma hora, horas convenientes para o treinador e a Submissa. O treinador pessoal informará ao Amo os avanços da Submissa.
Higiene pessoal e beleza:

A Submissa estará limpa e depilada a todo momento. A Submissa irá ao salão de beleza escolhido pelo Amo quando este decida e se submeterá a qualquer tratamento que o Amo considere oportuno.
Segurança pessoal:

A Submissa não beberá em excesso, não fumará, não tomará nenhuma substância psicotrópica, nem correrá riscos sem necessidade.
Qualidades pessoais:

A Submissa apenas manterá relações sexuais com o Amo. A Submissa se comportará a todo o momento com respeito e humildade. Deve compreender que sua conduta influencia diretamente na do Amo. Será responsável por qualquer ato, maldade ou má conduta que leve a cabo quando o Amo não estiver presente.

O não cumprimento de quaisquer das regras acima resultará em punição imediata, cuja natureza será determinada pelo Dominador.


— Limites rígidos? — (Ana pergunta alarmada.)

— Sim. O que você não fará e o que eu não farei. Precisamos especificar em nosso contrato.
— Não estou certa quanto a aceitar dinheiro para as roupas. Parece errado. (Ana se remexe n cadeira.)
— Quero gastar dinheiro com você. Deixa-me presenteá-la com algumas roupas. Posso precisar que me acompanhe em eventos, e quero você bem vestida. Tenho certeza que o seu salário, quando você conseguir de fato um emprego, não cobrirá o tipo de roupa que eu gostaria que você usasse.
— Não preciso usar essas roupas quando não estiver com você?

— Não.

— Ok — (Ana diz pensativa.) — Não quero malhar quatro vezes por semana.

— Anastásia, preciso de você ágil, forte e resistente. Confie em mim, você precisa malhar.
— Mas com certeza não quatro vezes por semana. Que tal três?

— Quero que sejam quatro.

— Achei que isso fosse uma negociação.
(Christian contrai os lábios.)
— Ok, Srta. Steele, outro ponto para você. Eu tal uma hora três dias por semana e meia hora um dia?
— Três dias, três horas. Tenho a impressão que você vai garantir que eu me exercite quanto eu estiver aqui.
(Christian sorri maliciosamente e seus olhos brilham aliviados.)






— É verdade. Ok. Fechado. Tem certeza que não quer estagiar em minha empresa? Você negocia bem.
— Não acho que seja uma boa ideia.

(Ana relê as últimas regras.)

— Agora, os limites. Estes são os meus. — (Christian diz estendendo outra folha de papel.)

LÍMITES RÍGIDOS:
Atos com fogo.

Atos com urina, fezes e excrementos.

Atos com agulhas, facas, perfurações e sangue.

Atos com instrumentos médicos ginecológicos.

Atos com crianças e animais.

Atos que deixem marcas permanentes na pele.

Atos relativos ao controle da respiração.
Atividade que implique contato direto com corrente elétrica, fogo e chamas no corpo.


(Ana continua a ler, espantada com o conteúdo.)

— Tem mais alguma coisa que você gostaria de acrescentar? — (Christian pergunta de modo gentil.)

(Ainda perplexa, Ana não consegue responder. Christian a olha e enruga a testa.)

— Tem alguma coisa que você se negue a fazer?

— Não sei.

— Como assim, não sabe?
(Ela se retorce desconfortável e morde o lábio inferior.)
— Eu nunca fiz nada parecido com isso.

— Bem, mas quando fez sexo, houve alguma coisa que não gostou de fazer?
(Ana enrubesce, envergonhada.)

— Pode me dizer, Anastásia. Precisamos ser sinceros um com o outro, ou isso não vi dar certo.
(Ana torna a se retorcer e olha para seus dedos contraídos.)

— Conte para mim — (Christian ordena.)

— Bom...  Eu nunca fiz sexo antes, então não sei. — (ela diz com uma voz baixa.)
(Ana levanta os olhos até ele, que a encara com a boca aberta, paralisado e muito pálido.)




— Nunca? — (ele suspira.)

(Ana faz que não.)

— Você é virgem?

(Ela balança a cabeça, voltando a corar. Christian fecha os olhos, muito nervoso, quando os abre, a encara irritado.)
— Por que não me contou, porra? — (ele rosna furioso.)

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